Entrevista Com o Vampiro foi um marco da década de 1990, mas o filme quase foi alterado completamente para agradar o mercado, que ainda não estava tão aberto com a retratação de relações homossexuais nos cinemas. Assim, Louis (Brad Pitt) seria alterado para ser interpretado por uma mulher, especificamente a cantora Cher.
Em uma entrevista ao MovieLine em 1994, Anne Rice contou que cogitou mudar o personagem de Louis para uma mulher, mas acabou que o roteiro continuou mais próximo ao livro.
“Eu escrevi o roteiro em que Cher deveria interpretar Louis, não Lestat. Julia Phillips e eu estávamos desenvolvendo isso juntos, e a ideia era que Louis seria uma mulher travesti. Naquela época da história, você poderia possuir sua própria fazenda [plantation] e administrar as coisas se fosse homem, [mas] não poderia se fosse mulher. Foi a lei francesa. Então essa era uma mulher que se vestia como homem, caso contrário era exatamente igual a Entrevista com o Vampiro.”
Além disso, Rice contou que seu editor queria que Angelica Houston fosse Lestat para o longa-metragem, mas não ficou claro se ambos personagens seriam mulheres ou apenas mulheres se vestindo como homens perante a sociedade. Em outra versão, apenas Louis seria interpretado por uma mulher.
Antes de Tom Cruise ser escolhido para Louis, Cher escreveu a canção “Lovers Forever” para o longa, que acabou não sendo usado na trilha sonora. No entanto, a faixa foi posteriormente lançada em 2013 em uma versão mais pop e moderna.
Em Monsters in the closet: homosexuality and the horror film, de Harry M. Benshoff, Anne Rice teria mudado o personagem principal para mulher com medo da homofobia de Hollywood.
“De acordo com Rice, durante anos Hollywood teve medo de fazer um filme de Entrevista [com o Vampiro] porque não queria “ser acusada de homossexualidade em conjunto com abuso sexual infantil’”, isso se daria ao fato da personagem de Claudia (Kirsten Dunst) beijar Louis, mesmo que sua idade real não correspondesse com seu físico de criança.
“80 Atores conhecidos de Hollywood supostamente tinham medo de interpretar o papel de Louis e Lestat, pois estavam preocupados que a homossexualidade implícita dos personagens pudesse manchar suas chances de futuros papéis heterossexuais. Uma versão do roteiro do filme reconheceu essa homofobia de Hollywood e tentou contorná-la de uma forma incomum: a própria Rice reescreveu o papel de Louis, mudando seu sexo para feminino, especificamente para heterossexualizar seu relacionamento com Lestat. Na época, Rice sentiu que era a única maneira de fazer o filme; Cher foi considerada para o papel.” – página 259.
Ainda na entrevista, Rice falou sobre os possíveis nomes que poderiam trazer vida ao filme que demorou tanto para sair do papel. A autora comentou que tentou diretores como Ridley Scott e David Cronenberg, mas foi Neil Jordan que “teve coragem, não teve medo de gênero” e “adorava brincar com a transcendência de gênero e com ilusões e truques de gênero” que “soube trabalhar com esses personagens sem ter medo de sua característica homoerótica.”
No entanto, na época, a autora teve ressalvas pela escolha de Cruise como Lestat por achar que ele não sabia “no que estava se metendo”. Felizmente ele provou que sabia o que o vampiro demandava de seu profissionalismo.
Entrevista com o Vampiro se tornou um sucesso e até hoje é lembrado por fãs do gênero. Em 2022, a AMC produziu um remake da história com os atores Jacob Anderson e Sam Reid. A produção foi ovacionada pela química entre eles e como o enredo foi adaptado para uma série de televisão. A série foi renovada para mais uma temporada, que chega em 12 de maio nos EUA.
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