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    Resposta Histórica completa 100 anos

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    Neste domingo (07) completa um século desde que o Vasco da Gama definiu que com racismo não teria jogo. Há 100 anos, o Gigante da Colina redigiu uma carta abrindo mão de participar de uma liga preconceituosa, que queria excluir jogadores negros e pobres. Esse ato ficou eternizado na história como “Resposta Histórica”.

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    Mas qual foi o contexto para que o Vasco precisasse agir de maneira tão forte contra o racismo? Entenda a história:

    Em entrevista exclusiva para a TNT Sports, Marcelo Carvalho, diretor executivo do Observatório Racial no Futebol, contextualizou a Resposta Histórica de maneira ampla.

    1923 – Camisas Negras desafiam o preconceito

    Com início dos trabalhos na área do futebol em 1915, o Vasco precisou de apenas seis anos para chegar à Primeira Divisão da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres. Já em 1923, a equipe viria a ser a vencedora do Campeonato Carioca. O sucesso do Cruzmaltino estava nos negros, multatos, brancos, pobres e bons de bola. Além disso, para manter os atletas no time em uma época em que o futebol era amador, comerciantes portugueses registraram os jogadores como empregados nas suas empresas.

    Essa foi a maneira que o clube encontrou de burlar a exigência do amadorismo. Com uma campanha quase perfeita de 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota, o Vasco conquistou o primeiro título de Campeão Carioca da história do clube.

    O apelido de “Camisas Negras” surgiu com as vitórias sobre os clubes de menor expressão e a sequência de vitórias sobre os clubes da elite: Fluminense, Flamengo, Botafogo e America. O time foi ganhando fama de imbatível e ficou conhecido pelo uniforme caracterísco preto, ainda sem a faixa diagonal, com a gola branca e a cruz vermelha no peito.

    Os heróis daquela conquista foram Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito, que além de campeões cariocas, foram campeões fora de campo, desafiando o racismo e o preconceito.

    Camisas Negras, equipe campeã carioca pelo Vasco da Gama em 1923 | Acervo Vasco da Gama
    Camisas Negras, equipe campeã carioca pelo Vasco da Gama em 1923 | Acervo Vasco da Gama

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    1924 – A resposta histórica

    O historiador do Vasco da Gama, Walmer Peres, contou para Sérgio Loroza, em material exclusivo da TNT Sports, a história da Resposta Histórica. Confira:

    No ano seguinte ao título carioca do Vasco, em 1924, os grandes clubes (Fluminense, Botafogo e Flamengo), além de Bangu e São Cristóvão, abandonaram a Liga Metropolitana e fudaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (A.M.E.A). Assim, o Campeonato Carioca seria organizado por uma nova liga, mas tinha regras e estatutos racistas e preconceituosos, que tinham como objetivo excluir as pessoas negras e pobres do futebol.

    Os clubes não poderiam inscrever jogadores sem profissão definida e analfabetos e o principal alvo dessa nova regra era atingir o Vasco, que tinha em seu elenco a maioria de negros, pobres e pessoas sem alfabetização. O Cruzmaltino foi convidado a participar da nova liga, mas se recusou, pois não queria abandonar seus jogadores. O ato ficou conhecido como “Resposta Histórica”.

    “Quanto á condição de eliminarmos doze dos nossos jogadores das nossas equipes, resolveu por unanimidade a Diretoria do C.R. Vasco da Gama não a dever acceitar, por não se conformar com o processo porque foi feita a investigação das posições sociaes desses nossos consocios, investigação legada a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa. (…) São esses doze jogadores, jovens, quasi todos brasileiros, no começo de sua carreira, e o acto publico que os pode macular, nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que elles com tanta galhardia cobriram de glorias. Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V. Exa. que deisistimos de fazer parte da A.M.E.A.” (sic).

    Carta escrita pelo Vasco da Gama em 1924, conhecida como Resposta Histórica | Acervo Vasco da Gama
    Carta escrita pelo Vasco da Gama em 1924, conhecida como Resposta Histórica | Acervo Vasco da Gama

    Mesmo após 100 anos da Resposta Histórica, os efeitos da atitude do Vasco seguem sendo sentidos até os dias atuais. Para Marcelo Carvalho, do Observatório Racial do Futebol, o ato do Vasco foi um dos primordiais para a profissionalização do futebol no Brasil e, consequentemente, da criação de ídolos e lendas negras no esporte, como é o caso do Rei Pelé.

    “O futebol naquele momento (1923) era um esporte amador, onde era proibido o pagamento de salários para jogadores de futebol. Então quase 10 anos depois, com a grande presença de jogadores negros que vai se iniciar no futebol brasileiro, e a atenção que se dá com essa presença, o futebol torna-se profissional em 33. E aí sim permitindo que jogadores negros joguem e recebam um salário, mas o caminho para chegar até aí passa pela resposta histórica do Vasco da Gama em 1923 e 1924. (…) Talvez aqui a gente tenha um dos maiores legados da resposta histórica, que foi ajudar a tornar o futebol brasileiro um espaço profissional onde negros recebiam salários para estar naquele lugar.”

    Para Sérgio Loroza, é preciso mais. O primeiro passo do Vasco foi gigantesco, sobretudo por se tratar de um período de cerca de 35 anos após a abolição da escravatura, mas ainda hoje falta representatividade nas diretorias e clubes de futebol.

    A Resposta Histórica jamais será esquecida. O dia em que o racismo quis impedir pessoas de jogarem futebol e o Vasco disse: NÃO!



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