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    Parasyte: The Grey sabe desenvolver o próprio caminho, mas ainda não é o suficiente para sair da sombra da obra original

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    A série Parasyte: The Grey apresenta uma nova história ambientada no universo do mangá Parasyte, uma proposta ousada que Yeon Sang-ho tem sucesso na execução. No entanto, é inevitável admitir que aqueles que nunca tiveram contato com a obra original aproveitarão bem mais.

    A nova série da Netflix é moldada a partir de mentes geniais do terror: Hitoshi Iwaaki, criador do mangá, e Yeon Sang-ho, diretor de diversos títulos de sucesso no gênero. Não é atoa que a produção da plataforma carrega fortes expectativas do público e tem sucesso em construir seu próprio caminho, mas não esconde que ainda precisa de mais.

    Sabe construir novos conteúdos, mas deixa pontas soltas

    Imagens: Reprodução/Netflix

    A série traz na medida certa a essência de Parasyte original e dos trabalhos de Sang-ho. O diretor de Invasão Zumbi e Profecia do Inferno adiciona um toque mais sombrio, desde a fotografia com tons mais frios até as escolhas de abordagens políticas e religiosas em momentos específicos.

    Outra grande característica dos trabalhos de Yeon Sang-ho é sua perspicácia em criar momentos de quebra de expectativa. O diretor toma cuidado para fugir do óbvio e desenvolver clímax nos momentos certos. No geral, os episódios prendem atenção e possuem cenas angustiantes para aumentar o suspense da série.

    A nova história ambientada no universo de Parasyte se descola do Japão para a Coreia do Sul. O lugar é novo, mas as criaturas estão tão saguinárias quanto no mangá/anime. Agora, tanto parasitas, quanto humanos parecem mais preparados desde o início para uma guerra inevitável, dessa vez, uma disputa equilibrada pela sobrevivência. Mas a produção peca ao pular a construção e aprendizagem dos parasitas para se inserirem na sociedade e as tentativas de compreender os humanos, o que afeta principalmente no desenvolvimento — ou falta — de Heidi, criatura que transforma Su-in em híbrida.

    A série aproxima seres humanos e a espécie alienígena pela sua ganância na busca pelo poder. Mas ao transformá-los nos dois lados da mesma moeda, a série não é capaz de trazer um elemento que faça o público se compadecer pelos parasitas. A cumplicidade forçada de Su-in e Heidi não convence e a outra personagem “escolhida” para buscar um vislumbre de compaixão do público toma a atitude muito tardiamente. Não é como Reiko Tamura, personagem da animação.

    Parasyte: The Grey tem três personagens principais que também são vítimas da invasão das criaturas: Su-in, Kang-woo e Jun-kyu. Uma das grandes escolhas do diretor é a escalação de Lee Jung-hyun como Choi Jun-kyun, líder do esquadrão Grey. A atriz de Península e Decisão de Partir entrega na medida certa o equilíbrio entre senso de responsabilidade e loucura da personagem. Ela tem como objetivo exterminar os parasitas após um evento traumático com um, mas lida com as situações de forma sarcástica e chega a ser instigante acompanhar suas camadas em cena.

    Enquanto Jun-kyun tem uma boa construção, Kangw-woo não acompanha esse desenvolvimento e não é tão complexo quanto se propõe a ser. Su-in é promissora e vale destacar o talento da atriz Jeon So-nee por deixar explícito a troca de controle do corpo entre Heidi e Su-in.

    A relação entre Su-in e Heidi

    Imagem: Reprodução/Netflix

    Como alguém que já assistiu à animação de Parasyte, é desafiador desvincular os conteúdos. A série não pretende trazer os eventos originais, mas é claro que há certas referências que não deveriam ser esquecidas por serem histórias do mesmo universo. Apesar das grandes diferenças, a série e a obra original possuem um ponto em comum central para a movimentação do enredo: um protagonista híbrido.

    Ambas as histórias giram em torno dessa busca pela adaptação e coexistência do protagonista com o parasita. No anime, é fundamental a forma como Mingi busca compreender mais sobre os humanos com estudos e a rotina de Shinichi. A dupla possui diversos momentos de interação e aprendizagem que faz a relação de proteção por sobrevivência escalar para companheirismo.

    A dinâmica do humano e seu parasita é uma das mais interessantes em acompanhar ao longo da história, um ponto que não é resgatado em Parasyte: The Grey. Heidi age racionalmente e deseja apenas a sua sobrevivência, assim como Mingi no começo, mas seu desenvolvimento é tão acelerado que não convence. Diferente de Shinichi, capaz de conversar com seu parasita a qualquer momento, para Su-in é muito mais difícil, já que humano e parasita habitam o mesmo corpo e precisam trocar de lugar para assumir o controle.

    Não há interações e a série nos leva a crer que Heidi se compadeceu pela história trágica de Su-in ao ver suas memórias. Su-in e Heidi parecem com uma grande cumplicidade no final que mais parece irreal e forçada.

    Quem são os verdadeiros parasitas?

    Imagem: Reprodução/Netflix

    O ponto de partida de Parasyte: The Grey começa com a invasão de larvas alienígenas capazes de invadir o corpo humano e assumir o controle após devorar o cérebro. Essa nova espécie mais forte tira os humanos do topo da cadeia alimentar e transforma o caçador em caça. Chamados de “parasitas”, logicamente passam a ser vistos como uma ameaça que precisa ser exterminada.

    Mas até que ponto os seres humanos e essa nova espécie são diferentes? Parasyte: The Grey mostra que os dois lados são mais próximos do que você imagina e revela os reflexos do desespero humano quando surge uma espécie semelhante e mais forte. A série busca a coexistência como abordagem central e mostra de forma figurada como é impossível para os humanos coexistirem sem prejudicar outras espécies.

    A simultaneidade não é a única pauta na série. Como o diretor Yeon Sang-ho definiu, a obra de Hitoshi Iwaaki “é uma Bíblia”, capaz de abordar variados ensinamentos sobre a filosofia humana. A série está longe de ser apenas uma guerra entre locais e invasores, mas aborda a capacidade de uma espécie de fazer o que for preciso pela sobrevivência, a força das organizações e as ações movidas por ganância e poder, mostrando que os seres humanos também têm uma face parasita. Afinal, se uma nova espécie capaz de se alimentar de outra, destruir, se organizar em prol da própria preservação, o que a torna tão diferente da relação que os seres humanos têm com outras espécies do planeta e até entre eles?

    Parasyte: The Grey funciona bem como uma série independente e cria uma experiência ainda melhor para quem nunca teve contato como mangá/anime. A produção resgata as pautas de base da obra original e adiciona novas reflexões sobre as interações humana e entre espécies. É um título de terror promissor, mas é desafiador desvinculá-lo da obra original, principalmente quando são visíveis a falta de construção de certos personagens e elementos que seriam fundamentais para o desenvolvimento da história. Apesar dos erros e acertos, a série cria boas cenas de quebra de expectativa e sabe como deixar o melhor para o final.



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